miércoles, 30 de julio de 2008

ADEUS MAESTRO

O seu Antônio era difícil. Se ligava a sua casa, atrás do gonçalo, ele dizia: 'Nao está', ponto. desligava na cara. Nao interessava saber quem era, quem ligava. Se fosse a casa dele, na hora imprópia, que podia qualquer hora que nao quisesse atender, olhava com aquela cara de avô rabujento e fechava a porta na cara, sem medo, sem resentimentos. Comecei a conhecerlo melhor quando, esperando gonçalo que nunca chegava, conversávamos sobre um pouco de tudo. Tinha os meus 9 anos, estava interessado na história dos povos antigos, Suméria, Egito, Roma e Grécia, sobre as guerras, sobre os fatos... Ele começava pouco a pouco, sem espaventos, dizia palavra por palavra, como se nao quisesse traicionar a memória... sabías de tudo. Sabia a história do RS, sabia a Guerra do paraguay, como poucos, e mais que isso, sabia explicar a uma criança de 9 anos de uma forma que interagia integramente, sem titubear, sem perder palavra. Naquela época, em geral às 6 da tarde, depois dos meus estudos ( que sempre acabavam puntualmente e obsessivamente às 5 pm), conversávamos, comendo as polentas, ou lasanhas feitas com tanto carinho pela Dona Maria, uma avó íntegra, boa como poucos que conheci na estrada da vida... Me lembro que um dia, com 10 anos o perguntei, 'quero ser culto como o senhor e quero saber como faço'.. ele parou, pensou, tomando o seu gim forte a amargo e disse 'leia tudo o que te passe pela frente'...foi algo que segui ao pé da letra com afinco...podia ser uma resposta rápida, sem intençoes, mas podia ser algo devido ao seu esforço de saber, a sua bondade escondida entre tantas carrancas de mau humor.. Sempre voltei a vsisitarlo e na última vez, com seus noventa e tantos, o vi doente, respirava com muita dificuldade, mas nao desesperava..seguia o rumo imposto pela vida, valente, sábio como Sócrates com a sicuta diante da morte...Nunca se queixou da vida, e prá mim, exerceu como guia quando o mundo nao era tao fácil e tao rápido de ter conhecimento....Hoje o mundo está mais triste, mais burro, menos sábio, talvez menos rabugento, menos mau humorado, mas diria eu: "que saudade desse velho chato..."adeus Seu Bedin

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